Sunday, March 18, 2012

Braga diz que é hora de enfrentar as 'antigas práticas'

Em entrevista, Eduardo Braga afirma que Dilma o apóia na tentativa de acabar com 'toma lá, dá cá' na política

  Na entrevista, senador contestou, também, a fama de 'bruto'
Brasília - Se já estão contrariados com a mexida radical da presidente Dilma Rousseff esta semana no comando político no Congresso, aliados tradicionais podem se surpreender com outras mudanças que devem vir pela frente. O novo líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), diz que, após avanços nas áreas econômica e social, Dilma acha que chegou a hora de tentar acabar com velhas práticas políticas do toma lá dá cá. Às ameaças de rompimento de aliados tradicionais, ela vai buscar novos apoios, apontados como mais qualificados. Nessa lista entra até o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), um dos principais críticos das práticas de governos petistas. Braga disse que o ex-presidente Lula apoia essa mudança.

Confira a entrevista do senador à agência O Globo.

Ag. O Globo: O senhor está no meio do tiroteio. Vai pegar esse touro à unha?

EDUARDO BRAGA: Estou com vontade, viu? Se não me cortarem as mãos antes (risos).

Quem? O Renan (Calheiros, líder do PMDB no Senado)?

BRAGA: Tem várias forças ocultas e semiocultas nesse processo, né? A verdade é que o Brasil vem passando por uma transformação econômica e social, mas ainda não tinha feito o enfrentamento das antigas práticas políticas.

A presidente Dilma vai fazer esse enfrentamento agora?

BRAGA: Ela tem demonstrado isso claramente, primeiro não sendo conivente com o malfeito. Agora, a interlocução com a classe política também tem que passar por essa transformação. Um novo Brasil está surgindo e precisa passar por enfrentamentos que a nação sempre reclamou. A presidente acha que chegou a hora.

A reação no Congresso é grande. O senador Fernando Collor disse na tribuna que seu impeachment foi fruto da relação difícil com o Congresso...

BRAGA: Só posso dizer que foi um comentário, no mínimo, infeliz. Não enxergo com base em que isso possa fazer algum sentido. Na base aliada do Senado, por exemplo, há pessoas extremamente comprometidas com as boas práticas republicanas. É preciso fortalecer a interlocução com essas pessoas. Tem Pedro Taques, Pedro Simon, Cristovam Buarque, na Amélia, Jarbas Vasconcelos...

Mas esses sempre ficaram à margem da interlocução com o governo e isolados em seus partidos...

BRAGA: Ah, então o que quero dizer é que estamos num processo de ampliação dessa interlocução. Não estou excluindo ninguém. Estou dizendo que há agora uma nova prática, um novo modelo. Quero incluir todos esses que citei nas discussões e formulações do governo.

Inclusive o Jarbas?

BRAGA: O Jarbas é um grande quadro da política brasileira e do PMDB. Tem um questão pontual lá de Pernambuco que respeitamos. Conversei longamente com ele por telefone hoje (ontem) e ele me disse: Eduardo, conte comigo porque sei o tamanho da sua luta e como está bem intencionado. A presidente Dilma quer uma interlocução ampliada e vai mostrar isso com atos.

No caso do PR, Blairo Maggi bateu pé e seu partido não abre mão do Ministério do Transportes para não ir para a oposição...

BRAGA: Desse jeito, não vai! Vamos deixar quieto. Eles têm que compreender que desse jeito não funciona. Chega um determinado momento que é melhor deixar como está e vamos ver.

No episódio da rejeição de Bernardo Figueiredo, para a ANTT, a presidente se sentiu testada? Foi o gatilho para esse enfrentamento?

BRAGA: Talvez tenha sido o start de um desejo que ela já vinha manifestando. Ali ela entendeu que era o momento de tomar uma decisão importantíssima de mudança de paradigmas.

Ela tem a consciência de que não será pacífico?

BRAGA: Se eu entendo alguma coisa de opinião pública, acho que uma das coisas que mais fortalecem e agregam valor ao governo da presidente Dilma é exatamente essa postura que ela vem adotando. Na matemática do apoio, democracia é movida pelas maiorias. E quanto mais qualificada, melhor.

O senhor conversou sobre essa mudança com o ex-presidente Lula?

BRAGA: Ele me deu um apoio pessoal extraordinário. Quando a presidente me convidou, ele me telefonou e disse: “conte comigo”. Ele acha que a presidente Dilma está absolutamente certa, está nos apoiando e se colocou a nossa disposição.

Sabe que vai ter muita gente te boicotando?

BRAGA: Eu não tenho a menor dúvida, mas Deus é maior que tudo isso, ué! É uma boa luta e estou disposto a enfrentar os desafios. E falar em coragem com Dilma é brincadeira! Poucas pessoas são tão corajosas quanto ela.

Obrigada, senador. Viu? Nem doeu (risos).

BRAGA: Opa! Agora é o seguinte: você vai colocar uma pontinha das asas do anjo da guarda aí sobre minhas costas. E bota um pouquinho de ternura em mim porque, agora, querem me transformar em um brucutu! Dizem que o (Romero) Jucá (ex-líder) era doce, hábil , lindo e maravilhoso e que eu sou duro, bruto! Eu mal molhei o bico!

Vai ter que ser bruto mesmo...

BRAGA: Duro, mas sem perder a ternura. Acho que a gente pode construir as mudanças sem brutalidade. Ser firme não significa ser grosseiro.

Fonte:  Ag. O Globo .